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Infalibilidade

“Em primeiro lugar: a opinião que se tenta suprimir pela autoridade é possivelmente verdadeira. Quem deseja suprimi-la nega, obviamente, a sua verdade; mas não é infalível. (…) Impedir que uma opinião seja ouvida porque têm a certeza de que é falsa é estar  a partir do princípio de que a sua certeza é a mesma coisa que certeza absoluta. Todo o silenciar de uma discussão constitui uma pressuposição de infalibilidade. (Príncipes absolutos, ou outros que estão habituados a deferência ilimitada, sentem geralmente esta confiança plena nas suas próprias opiniões em relação a quase todos os assuntos. (…) E, para cada indivíduo, o mundo é aquela parte do mundo com a qual ele entra em contacto; o seu partido, a sua seita, a sua igreja, a sua classe social; quase pode dizer-se que a pessoa para a qual o mundo é algo tão abrangente como o seu próprio país ou a sua própria época é, por comparação, liberal e tem vistas largas.  E a sua confiança nesta autoridade colectiva não é de modo algum abalada por ter consciência de que outras eras, países, seitas, igrejas, grupos e partidos pensaram, e mesmo agora pensam, de modo exactamente oposto. Ela transfere para o seu próprio mundo a responsabilidade de ter a certeza, por oposição aos mundos discordantes das outras pessoas; e nunca a preocupa que um mero acaso tenha estabelecido qual destes mundos seja alvo da sua confiança, e que as mesmas causas que fizeram dela um padre em Londres a teriam feito um budista ou confucionista em Pequim”

 

Poderíamos apresentar objeções a esta pressuposição de infalibilidade, além das que Mill apresenta?

 

Biblioteca de Alexandria

Na imagem, uma representação da antiga Biblioteca de Alexandria, alegadamente destruída porque o Califa Omar considerava que “se esses livros gregos estão de acordo com o Alcorão, não precisamos deles e eles não carecem ser preservados; e se eles se opõem ao Alcorão, é preciso destruí-los”. Esta versão da história, contudo, é pouco credível.

 

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Sérgio Lagoa - APF

Professor de Filosofia no Ensino Secundário e Formador de Professores. Mestre em Pedagogia do e-learning (UAb) e Mestre em Didática da Filosofia (FLUP). Membro da direção da Apf (Associação de Professores de Filosofia)

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